A cidade de Nova York deu um passo ousado na gestão de resíduos sólidos e no combate às mudanças climáticas. Desde abril de 2025, a compostagem se tornou obrigatória em todos os cinco distritos — Manhattan, Brooklyn, Queens, Bronx e Staten Island. A nova regra exige que todos os moradores e estabelecimentos separem os resíduos orgânicos, como restos de comida e folhas, do lixo comum. São dois meses de aprendizado na maior metrópole do planeta.
A medida faz parte do Zero Waste Act, aprovado em 2023, que estabelece metas ambiciosas para que a cidade alcance lixo zero até 2030. Com isso, Nova York busca reduzir drasticamente a quantidade de resíduos enviados aos aterros, diminuir a emissão de gases de efeito estufa, especialmente o metano, e transformar lixo orgânico em insumo para parques, hortas urbanas e projetos comunitários.
Na prática, todos os imóveis — residenciais e comerciais — devem agora separar os resíduos orgânicos em recipientes específicos. A coleta é feita semanalmente, junto com os demais materiais recicláveis. Quem não cumprir a regra está sujeito a multas que variam de US$ 25 a US$ 300, dependendo do porte do imóvel e do número de reincidências.
O Departamento de Saneamento de Nova York (DSNY) informou que, apenas em 2024, as ecobarreiras e o sistema de compostagem ajudaram a desviar mais de 63 milhões de libras (28,5 mil toneladas) de resíduos orgânicos dos aterros sanitários. Em Staten Island, por exemplo, cerca de 5,4 milhões de libras (2,4 mil toneladas) são compostadas semanalmente.
Apesar dos avanços, a adesão à nova lei não foi automática. Dados do próprio DSNY mostram que, até poucos meses antes da entrada em vigor, apenas 5% dos grandes edifícios estavam plenamente adequados à coleta seletiva de orgânicos.
O número acendeu um sinal de alerta na gestão pública e gerou críticas de associações de moradores e síndicos. A principal reclamação era a falta de orientação clara, além dos desafios logísticos, especialmente para edifícios mais antigos e com pouco espaço para armazenamento dos novos recipientes.
Diante da pressão, a prefeitura reduziu a rigidez da aplicação das multas. Atualmente, somente edifícios com mais de 30 unidades estão sujeitos às penalidades, e apenas após passarem por um processo que inclui quatro advertências formais.
Além disso, o DSNY tem distribuído gratuitamente milhares de toneladas de composto aos moradores, incentivando práticas de agricultura urbana e a revitalização de espaços públicos.
Comentário da Rede ESG:
O caso de Nova York traz reflexões importantes, especialmente para cidades brasileiras e de outros países em desenvolvimento que buscam alternativas mais sustentáveis para a gestão de resíduos.
- Educação é chave: a resistência inicial da população deixou claro que não basta legislar, é preciso comunicar, capacitar e envolver as comunidades.
- A compostagem é viável, mas exige infraestrutura adequada, tanto para coleta quanto para processamento dos resíduos.
- Nova York demonstra que cidades grandes podem, sim, implementar soluções inovadoras e sustentáveis, mesmo enfrentando resistências iniciais. Mais do que uma obrigação legal, a compostagem passou a ser vista como parte de uma cultura urbana voltada para o futuro, onde o lixo deixa de ser problema e passa a ser solução.
